Priscila Tapajowara: A Voz Indígena no Seminário A Possible Amazon na Noruega – Reflexões e Soluções para o Futuro da Amazônia
- Rodrigo Braz Vieira
- 18 de dez. de 2024
- 4 min de leitura

No dia 10 de outubro de 2024, uma quinta-feira dedicada a reflexões e discussões fundamentais, o seminário A Possible Amazon reuniu representantes de organizações, lideranças indígenas e especialistas no espaço The Conduit, em Oslo. Organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Noruega (BNCC), o evento promoveu uma série de painéis com temas urgentes, além de exposições de produtos sustentáveis da bioeconomia amazônica, destacando soluções inovadoras e a importância da preservação da floresta.
Entre os destaques do evento, a presença de Priscila Tapajowara, liderança indígena do estado do Pará e comunicadora da Mídia Indígena, trouxe uma voz direta da Amazônia. Em uma entrevista exclusiva para o Brasil i Norge, Priscila compartilhou reflexões sobre a importância do seminário, o papel da mídia indígena e os desafios enfrentados pelos povos da floresta.
Entrevista com Priscila Tapajowara

Como o Seminário A Possible Amazon contribui para aumentar a conscientização sobre a Amazônia e as questões indígenas?
"Bom, eu acho que estar presente nesse evento é muito importante porque eu trouxe uma perspectiva de uma pessoa que vive na Amazônia, de que está nessa luta diária em defesa da Mãe Terra, faz parte do movimento indígena. E trazendo esses conhecimentos ancestrais, esse conhecimento dos povos da floresta para cá, e compartilhando com as pessoas que estão aqui, que são estudiosos, que são pessoas que trabalham em empresas, são pessoas que estão pensando em diversos caminhos, diversas possibilidades de também salvar a Amazônia, de estar construindo conjuntamente nesse processo de proteção da floresta e de tentar reflorestar também essa parte que já foi degradada e, de alguma forma, parar essa degradação da nossa floresta.
Porque a gente sabe que se a Amazônia morrer, o mundo todo vai sofrer as consequências. Então eu acho que esse espaço, estando aqui na Noruega, onde é um país mundialmente conhecido, que se preocupa muito com essas questões climáticas, é muito importante. Mas também sabemos que tem outras questões, como agora tem uma coligação de crédito de carbono, e a Noruega está presente. Quando essa coligação assinou com o governo do estado do Pará, não fizeram nenhuma consulta prévia com os povos tradicionais do Pará. Isso é um problema. Não tem como querer implantar meios de salvar a Amazônia sem ouvir os povos da Amazônia, porque nós temos esse conhecimento, vivemos em harmonia e temos essa sabedoria de como manter a floresta de pé, e a gente faz isso há muitos anos. Então, nesse processo de buscar soluções, independente de ser uma empresa ou um pesquisador, é importante que conversem com os povos tradicionais da Amazônia."
Como produtora de filmes e diretora de fotografia, como você acha que a mídia visual pode continuar o impulso criado por este seminário para contar as histórias da Amazônia e de seu povo?
"Bom, no Brasil a gente tem a perspectiva de que os meios de comunicação são monopolizados, e muito do que se passa nas grandes emissoras é com uma perspectiva branca. Eles não querem falar sobre realmente o que está acontecendo dentro dos territórios, assim como em outros meios de comunicação em nível mundial. Então, trazer uma comunicação indígena, estar atuando dentro dessa comunicação, é um trabalho que eu acredito ser muito importante.
A gente traz as vozes dos territórios, a gente compartilha com o mundo essas vozes das lideranças que estão ali diariamente lutando em defesa dos nossos territórios, da nossa cultura, dos nossos direitos. E ocupando novos espaços, como a comunicação e até a política – como a ministra Sonia Guajajara e outras lideranças –, a gente percebe que isso é importante. A comunicação indígena tem sido revolucionária no Brasil, onde compartilhamos nossas histórias, nossas lutas, alcançando muitas pessoas. Levamos notícias dos territórios para o mundo e também o contrário, para que os parentes dentro das aldeias saibam o que está acontecendo fora."
Houve alguma discussão em painel ou interação que marcou você de forma significativa ou que a surpreendeu?
"Tiveram vários painéis que me chamaram a atenção, mas alguns assuntos me atiçaram mais a curiosidade, como a questão da agricultura e o monitoramento da exportação de soja, para saber se ela vem de áreas desmatadas ou não (Denofa). Outro tema foi sobre um fertilizante que ajuda a floresta a crescer mais rápido. Isso ajudaria muito no reflorestamento, plantando árvores e acelerando seu crescimento (Yara).
Se isso realmente acontecer, vai ser incrível. Mas a gente sabe que a lei no Brasil é muito complexa e está muito a favor do agronegócio, né? Eu venho de uma região onde as florestas estão sendo totalmente desmatadas para plantar soja, e isso é algo incontrolável. Então fiquei curiosa para saber se esse projeto de rastrear a soja poderia realmente ajudar na fiscalização e na diminuição dessa destruição que acontece no Brasil."
O que você espera que o público norueguês e internacional levem de eventos como o seminário A Possible Amazon, e como eles podem apoiar a causa daqui em diante?
"Eu espero que todos os eventos que aconteçam aqui na Noruega, que falem sobre a Amazônia, que falem sobre o Brasil, que falem sobre os povos tradicionais – seja indígena, quilombola ou ribeirinho – tenham uma representatividade. É importante que a gente venha de lá para cá e fale por nós mesmos, com a nossa visão, sobre a nossa luta.
Espero que as pessoas nos ouçam e que isso toque o coração de todos, trazendo mais apoiadores para a nossa causa. É importante que a gente esteja nesses espaços, que ocupemos esses lugares e que as pessoas entendam a importância da Amazônia e dos povos que a protegem."
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